Você já deve ter ouvido falar sobre o problema da poluição por plásticos, certo? Pois saiba que uma das consequências disso é a presença de microplásticos praticamente em todo lugar, desde os oceanos até lagos e rios.
Será que os microplásticos poderiam indicar o início da era Antropoceno? É sobre isso que vamos falar agora.
O que é o antropoceno?
Aqui está uma reformulação da frase original sem plágio:
O conceito de “antropoceno” refere-se a uma época geológica subsequente ao holoceno, o período interglacial atual caracterizado por temperaturas mais quentes. O termo, derivado das palavras gregas para “humano” (anthropos) e “novo” (kainos), foi cunhado em 2000 pelo químico holandês e Nobel de Química de 1995 Paul Crutzen.
Ele propôs o antropoceno como uma nova era marcada pela profunda influência da humanidade sobre os sistemas terrestres.
O antropoceno se caracteriza principalmente por três fatores: o progresso tecnológico que se acelerou após a Primeira Revolução Industrial, o crescimento explosivo da população graças às melhores condições de alimentação, saúde, higiene e à multiplicação da produção e do consumo.
O que são Microplásticos?
Basicamente, são pedaços minúsculos de plástico com menos de 5mm de tamanho. Eles são oriundos da decomposição de objetos plásticos maiores ou são fabricados nesse tamanho mesmo para produtos como cosméticos.
O problema é que por serem tão pequenos, os microplásticos acabam se espalhando com facilidade no ambiente. E como o plástico demora séculos para se decompor totalmente, esse material tende a se acumular com o passar do tempo.
Por isso, alguns cientistas cogitaram a possibilidade dos microplásticos servirem como marcadores do Antropoceno, que é a era geológica que estamos vivendo atualmente e que é caracterizada pelas intensas transformações causadas pelas atividades humanas no planeta Terra.
Como será feita a análise dos microplásticos?
Para responder a essa pergunta, pesquisadores da Letônia analisaram amostras de sedimento coletadas no fundo de três lagos da região: Seksu, Pinku e Usmas.
Eles escolheram esses ambientes justamente por serem protegidos e afastados de grandes centros urbanos, o que permitiria avaliar melhor o transporte dos microplásticos ao longo do tempo sem uma contaminação excessiva recente.
As amostras foram coletadas com equipamentos especiais que conseguiram capturar os sedimentos depositados nas últimas décadas nos lagos.
Depois, em laboratório, os cientistas separaram e analisaram os microplásticos presentes em cada amostra, identificando o tipo de polímero, o tamanho e formato das partículas.
Para determinar a idade das camadas de sedimento onde os microplásticos foram encontrados, eles utilizaram uma técnica chamada datação por 210Pb. Assim, foi possível reconstruir um histórico da contaminação por esses materiais com boa precisão temporal.
Quais foram os resultados da análise?
A divulgação dos resultados gerou controvérsia na comunidade científica. Isso porque, apesar da concentração de microplásticos aumentar nas camadas de sedimento mais recentes (depois dos anos 1950), indicando a expansão no uso de plásticos, as partículas também foram detectadas em camadas mais antigas, depositadas antes dos anos 1950.
Ou seja, os microplásticos não surgiram repentinamente depois do chamado “Grande Aceleração”, que marcou o ápice da Revolução Industrial. Na verdade, eles já estavam presentes em concentrações menores em períodos anteriores.
Mas como isso poderia acontecer? Seriam contaminantes introduzidos durante a análise? Provavelmente não, pois os pesquisadores tomaram uma série de precauções para evitar qualquer contaminação.
Microplásticos caem para camadas profundas
A melhor explicação é que realmente ocorre um movimento descendente dos microplásticos no interior das camadas de sedimento. Ou seja, as partículas teriam capacidade de penetrar lentamente nos estratos mais profundos.
Isso poderia acontecer devido à porosidade e densidade dos sedimentos. Camadas mais fofas e com maior presença de matéria orgânica permitiriam o deslocamento vertical dos microplásticos.
Além disso, o formato das partículas também influencia. Os pesquisadores observaram que partículas menos alongadas e com formas mais arredondadas tendem a descer para camadas mais profundas com maior facilidade.
Portanto, a distribuição dos microplásticos nos testemunhos de sedimento analisados não reflete necessariamente a linha do tempo de contaminação. As concentrações atuais não indicam com precisão quando esses materiais começaram a ser introduzidos nos lagos.
Conclusões
Diante do exposto, os cientistas concluem que os microplásticos têm limitações como indicadores cronológicos do início do Antropoceno, já que podem se deslocar entre as camadas de sedimento ao longo do tempo.
Por isso, eles fazem algumas recomendações para estudos futuros. É preciso entender melhor quais variáveis controlam a migração vertical dos microplásticos antes de utilizá-los como marcadores temporais confiáveis nos registros geológicos.
Portanto, apesar de onipresentes no ambiente atual, os microplásticos ainda não são considerados proxies adequados para a definição formal do início do Antropoceno. Outros critérios e marcadores estratigráficos precisam ser investigados.
Referências
DIMANTĖ-DEIMANTOVICA, Inta et al. Downward migrating microplastics in lake sediments are a tricky indicator for the onset of the Anthropocene. Science advances, v. 6, n. 8, p. eadi8136, 2022. Disponível em: https://www.science.org/doi/10.1126/sciadv.adi8136