Imagine só: enquanto a maioria das pessoas aproveita o Natal junto aos seus entes queridos, há quem dedique essa data tão especial para uma busca muito incomum.
Rastrear samambaia rara e minúscula em ilhas remotas no frio do inverno pode não ser a ideia mais atraente para muitos, mas para a especialista em história natural Rosemary Parslow, essa missão se tornou uma verdadeira paixão ao longo de décadas.
Índice
As ilhas Scilly e seu valor natural único
Situado no oceano Atlântico, próximo da costa da Cornualha na Inglaterra, esse arquipélago é formado por mais de 100 ilhas, a maioria desabitada. Esse ecossistema isolado abriga uma biodiversidade impressionante: flores silvestres raras e lindas, pássaros marinhos de importância global e estranhas criaturas do mar.
Encontrando a samambaia rara pela primeira vez
Tudo começou em 1958 quando Rosemary visitou essas ilhas remotas pela primeira vez para estudar as aves marinhas. Ela se apaixonou pelo local e nunca mais foi embora. Com o passar dos anos, a especialista acabou dando o maior golpe de sorte durante suas explorações na natureza: deparou-se com dezenas de exemplares de uma samambaia rara, a chamada Ophioglossum lusitanicum.
Essa plantinha minúscula, com folhas do tamanho de uma unha humana, é praticamente desconhecida, ocorrendo unicamente em solo britânico em um pequeno trecho da ilha de St. Agnes, no arquipélago Scilly. Parece até achar que algo mágico a trouxe até esse lugar especial!
Expedições durante o natal viram tradição para família
Já imaginou sair de casa em pleno Natal para rastejar pelo chão congelado para buscar e mapear uma samambaia rara? Pois foi exatamente isso que Rosemary passou a fazer ano após ano, para total espanto de seus 3 filhos. Não é à toa que eles achavam a mãe “totalmente maluca” cada vez que ela se despedia para passar o feriado fazendo o que mais ama: estudando aquelas minúsculas plantas. “Eles com certeza acharam que eu era louca. Obviamente, isso dava um certo tempero especial ao Natal”, diverte-se Rosemary.
Dedicação mesmo diante de contratempos e perigos
A paixão de Rosemary pela natureza é tanta que nem mesmo sustos e contratempos fazem ela desistir. Em uma de suas expedições em busca de outra planta rara, nossa protagonista quase se afogou ao pular de uma espécie de bote salva-vidas e cair no oceano repleta de equipamentos!
Roupas encharcadas, botas pesadas, tudo conspirava para puxá-la para o fundo, mas ela não se abalou. Nadou até o barco, conseguiu subir a bordo e, após se secar com roupas emprestadas dos passageiros, seguiu seu trabalho pelo resto do dia como se nada tivesse acontecido.
Brigas contra normas sociais da época sobre mulheres grávidas
Sua carreira brilhante também exigiu sacrifícios. Nos anos 1950, Rosemary trabalhava como assistente científica do Museu de História Natural em Londres, mas teve que pedir demissão quando engravidou, como mandava o figurino da época. “Naquela época, quando você ficava grávida, sua vaga de emprego não era mantida. Era obrigatório sair”, lembra. Mesmo assim, ela persistiu fazendo ilustrações para livros e escrevendo sobre essas ilhas que tanto ama.
87 anos e ainda mapeando mudanças preocupantes na natureza
Agora com 87 anos, nossa heroína pode ser considerada aposentada, mas nunca para de ajudar na conservação ambiental das ilhas Scilly. Utilizando seus exaustivos registros históricos, ela monitora alterações preocupantes na flora e fauna do arquipélago: muitas plantas estão desaparecendo, provavelmente extintas devido aos efeitos das mudanças climáticas, desde tempestades mais intensas até a elevação do nível do mar.
Sinais de aquecimento global e extinções preocupam especialista
Outro sinal alarmante relatado pela naturalista são eventos fora do comum provavelmente relacionados ao rápido aquecimento dos oceanos: avistamentos massivos de águas-vivas minúsculas e transparentes (chamadas de “cristal jelly”) e de salpas, parentes estranhos e etéreos de ascídeas que vivem no oceano aberto. Nunca vistas nas ilhas antes, essas criaturas sensíveis à temperatura da água têm aparecido aos milhões, indicando transformações preocupantes na natureza.
Passando seu legado e conhecimento adiante
A extraordinária contribuição de Rosemary para ciência e conservação já foi reconhecida com medalhas e homenagens. Aos 87 anos, ela ainda visita aquela samambaia rara que encontrou há mais de meio século, agora em expedições para mostrar o local e treinar novos naturalistas para darem continuidade ao seu trabalho.
Como ela mesma disse certa vez: “estar ajudando a vida selvagem das Scilly aos quase 90 anos é um testamento à minha paixão, determinação e dedicação à natureza”.
Conclusão – Uma vida dedicada à conservação natural
Essa é a incrível história de Rosemary Parslow, uma Mulher que se dedica inteiramente à preservação ambiental e pesquisa de plantas raras. Sua perspectiva ímpar como testemunha ocular de transformações nesse ecossistema ao longo de décadas serve de alerta sobre os riscos que essas ilhas tão especiais enfrentam.
Graças ao legado dessa incansável naturalista, as gerações futuras terão mais chances de também se encantarem com as maravilhas naturais desse recanto perdido no Atlântico. Quem sabe sua história não inspira outros amantes da natureza a também defenderem nossa biodiversidade?
Referência
BBC News. The woman who spent Christmas in search of a rare plant. Disaponível em: https://www.bbc.com/news/science-environment-67596154