O cultivo de tomate cereja em substrato tem se mostrado uma opção cada vez mais atraente para agricultores que buscam maior produtividade e controle sobre suas plantações.
Neste artigo, vamos explorar os principais aspectos dessa técnica, desde o ambiente protegido até o manejo das plantas e o controle de pragas e doenças.
Vamos nos basear em uma circular técnica da EMBRAPA, a chamada Produção de Tomate em Substrato de Fibra de Coco.
Índice
O que é o cultivo em substrato?
Antes de mais nada, você deve estar se perguntando: afinal, o que é esse tal cultivo em substrato? Bem, é um sistema onde as plantas crescem fora do solo, em recipientes contendo um meio de cultivo alternativo. No caso do tomate cereja, um dos substratos mais recomendados é a fibra de coco.
Essa técnica apresenta diversas vantagens em relação ao cultivo tradicional no solo:
- Maior produtividade
- Frutos de melhor qualidade e mais uniformes
- Possibilidade de plantio em áreas com solos inadequados
- Redução de gastos com mão de obra
- Uso mais eficiente da água na irrigação
- Melhor controle nutricional
- Menor ocorrência de doenças
Claro, também existem alguns desafios, como o maior custo inicial e a necessidade de conhecimento técnico mais aprofundado. Mas não se preocupe! Vamos abordar os principais pontos para você começar nessa empreitada.
Ambiente protegido: a casa do seu tomateiro
O cultivo em substrato geralmente é feito em ambiente protegido, como estufas ou telados. Isso proporciona um microclima mais adequado para o desenvolvimento das plantas e as protege contra intempéries e pragas.
Na região da Serra da Ibiapaba, no Ceará, onde foram realizados experimentos com essa técnica, são utilizados dois tipos principais de estruturas:
Telados
São estruturas mais simples, geralmente feitas de madeira ou metal, cobertas com tela tipo clarite (branca). Sua principal função é proteger contra pragas, granizo e ventos. No entanto, não oferecem proteção efetiva contra chuvas.
Estufas
O modelo mais comum na região é o tipo arco, com estrutura metálica ou de madeira e cobertura plástica. Uma característica importante é ter pé direito alto e abertura para ventilação na parte superior (teto convectivo), o que ajuda a controlar a temperatura interna.
Um estudo comparativo entre telado e estufa mostrou que:
- O telado apresentou temperaturas mais amenas, favoráveis ao tomateiro
- A estufa teve menor umidade relativa do ar, reduzindo a ocorrência de doenças foliares
Portanto, a estufa se mostrou mais vantajosa em termos de controle de pragas e doenças. No entanto, ainda há espaço para melhorias no design para diminuir as temperaturas nas horas mais quentes do dia.
O substrato: a base do seu cultivo
O substrato é o meio que serve de suporte físico para as plantas e retém água e nutrientes. Um bom substrato deve ter algumas características importantes:
- Alta capacidade de retenção de água disponível para as raízes
- Boa porosidade e aeração
- Não reagir quimicamente com os fertilizantes
- Estrutura estável e decomposição lenta
- Baixa salinidade
- Livre de patógenos
Para a região Nordeste do Brasil, o substrato de fibra de coco é um dos mais recomendados. Ele apresenta boas características físicas, está disponível no mercado local e tem uma boa relação custo/benefício.
Recipientes: a casa das suas plantas
No cultivo do tomate cereja em substrato, são utilizados de 8 a 10 litros de substrato por planta. Isso pode estar contido em:
- Sacos plásticos
- Vasos
- Valas cavadas no solo e revestidas com filme plástico
Os sacos de cultivo são bastante populares. Geralmente têm volume de 40 litros e dimensões de 100-110 cm de comprimento, 20 cm de largura e 12-15 cm de altura. É importante que sejam de cor clara (preferencialmente branca) para evitar o aquecimento excessivo do substrato.
Irrigação: água na medida certa
No cultivo em substrato, utiliza-se a irrigação por gotejamento. Esse sistema permite aplicar a solução nutritiva de forma precisa, em pequenas doses e com alta frequência.
É fundamental que o sistema de irrigação seja bem dimensionado e tenha alta uniformidade de aplicação. Afinal, todas as plantas precisam receber aproximadamente a mesma quantidade de solução nutritiva.
Os gotejadores devem ter estacas que permitam direcionar o fluxo de água para o local desejado em relação à planta. A distância do gotejador à planta geralmente varia de 3 cm a 8 cm.
O sistema de irrigação deve ser automatizado, permitindo a aplicação de vários pulsos de irrigação ao longo do dia. Para isso, são utilizados um programador de irrigação (timer) e válvulas solenoides.
Solução nutritiva: o alimento das suas plantas
A solução nutritiva é fundamental no cultivo em substrato. Ela fornece todos os nutrientes necessários para o desenvolvimento das plantas. Você pode optar por adquirir formulações prontas no mercado ou fazer sua própria formulação utilizando fertilizantes solúveis.
É importante fazer uma análise química da água que será usada na fertirrigação, pois as concentrações de sais e o pH afetam a formulação da solução nutritiva. Para o cultivo do tomate cereja, a água de irrigação deve ter uma condutividade elétrica de no máximo 1,5 dS/m.
O artigo apresenta uma formulação de solução nutritiva utilizada com sucesso no cultivo de tomateiro na Serra da Ibiapaba, CE. Essa solução pode ser preparada em tanques de solução estoque concentrada e injetada no sistema de irrigação através de bombas dosadoras.
É fundamental manter o pH da solução nutritiva entre 5,5 e 6,5 para garantir uma boa absorção de nutrientes pelas plantas e evitar problemas nas tubulações de irrigação.
Manejo do cultivo: cuidados do dia a dia
O manejo adequado é essencial para o sucesso do cultivo de tomate cereja em substrato. Vamos abordar alguns pontos importantes:
Transplante das mudas
As mudas devem ser transplantadas quando apresentarem de quatro a cinco folhas definitivas. Antes do transplante, o substrato deve ser saturado com solução nutritiva e depois drenado.
Tutoramento e amarração
O tutoramento é essencial para manter a planta ereta e evitar que folhas e frutos toquem o solo. Recomenda-se o tutoramento vertical, utilizando fitilho de plástico.
Desbrota e desfolha
A desbrota (remoção dos brotos laterais) deve ser feita semanalmente. As plantas podem ser conduzidas com uma ou duas hastes, dependendo do objetivo de produção.
Irrigação
O manejo da irrigação é crucial. É necessário monitorar diariamente os volumes, o pH e a condutividade elétrica da solução nutritiva aplicada e da solução drenada dos contentores.
Pragas e doenças: os inimigos do seu tomateiro
Mesmo em ambiente protegido, o tomateiro pode ser atacado por diversas pragas e doenças. O manejo integrado, com monitoramento constante, é fundamental para o controle efetivo. Vamos conhecer alguns dos principais problemas:
Pragas do tomate
- Traça-do-tomateiro (Tuta absoluta)
- Mosca-branca (Bemisia argentifolii)
- Mosca-minadora (Liriomyza spp.)
- Tripes (Frankliniella spp.)
- Broca-pequena (Neoleucinodes elegantalis)
- Ácaro-do-bronzeamento (Aculops lycopersici)
Para cada uma dessas pragas, existem métodos específicos de monitoramento e controle. O uso de armadilhas adesivas e com feromônios é uma estratégia importante para o monitoramento.
Doenças
- Pinta-preta (Alternaria solani)
- Mancha-de-estenfílio (Stemphylium solani)
- Oídio (Oidiopsis haplophylli)
- Murcha-bacteriana (Ralstonia solanacearum)
O controle dessas doenças envolve medidas preventivas, como a eliminação de fontes de inóculo, e o uso de fungicidas registrados para a cultura, sempre baseado no monitoramento da doença.
Preparação para o próximo ciclo
Após o término de um ciclo de cultivo, é importante preparar o substrato para o próximo plantio. Isso envolve:
- Irrigar apenas com água na última semana do cultivo
- Deixar as plantas secarem e removê-las
- Tratar o substrato com uma solução de hipoclorito de sódio
- Lavar o substrato e saturá-lo novamente com solução nutritiva
Esses cuidados ajudam a prevenir a disseminação de doenças e garantem melhores condições para o próximo ciclo de cultivo.
Custos e resultados: vale a pena investir?
O artigo apresenta uma estimativa de custos de produção para uma estufa de 2.500 m² com um ciclo de cultivo por ano. Considerando uma produtividade média de 14 kg/m², a produção total seria de 35.000 kg/ciclo.
Com um preço médio de comercialização de R$ 1,00/kg, a margem de lucro bruta seria de R$ 15.975,00 por ciclo. Seria necessária uma produção de 19.025 kg de tomate cerejapara cobrir os custos de produção.
É importante ressaltar que é possível realizar mais de um ciclo de cultivo por ano na mesma estrutura, o que poderia diminuir o custo de produção por ciclo.
Conclusão: um futuro promissor para o tomate cereja em substrato
O cultivo de tomate em substrato de fibra de coco se mostra uma alternativa viável e promissora, especialmente em regiões como a Serra da Ibiapaba, no Ceará. Essa técnica permite maior controle sobre as condições de cultivo, resultando em maior produtividade e qualidade dos frutos.
Apesar do investimento inicial mais elevado, os resultados econômicos são animadores. Além disso, a possibilidade de realizar múltiplos ciclos de cultivo por ano pode tornar o empreendimento ainda mais rentável.
Para quem está pensando em iniciar nessa área, é fundamental buscar conhecimento técnico e contar com o apoio de profissionais experientes. Com dedicação e manejo adequado, o cultivo de tomate cereja em substrato pode se tornar um negócio de sucesso.
Lembre-se: o segredo está no cuidado diário, no monitoramento constante e na rápida resposta aos desafios que surgem. Com essas práticas, você estará no caminho certo para colher os frutos do seu trabalho – no caso, tomates saborosos e de alta qualidade!
Referências
EMBRAPA. Produção de Tomate em Substrato de Fibra de Coco. Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/51476/1/CIT11002.pdf