Há décadas, em escala global, enfrentamos uma série de problemas ambientais que colocam em risco a estabilidade da vida, tanto humana quanto da biodiversidade em geral.
Um desses graves problemas é o desmatamento, ação que gera múltiplas consequências em nível ambiental e social, como é o caso das mudanças climáticas, outro dos problemas com os quais tem relação direta.
Neste artigo apresentamos informações sobre o que é o desmatamento, suas causas, consequências, alguns dados sobre os países mais afetados e quais medidas podemos colocar em prática para melhorá-lo e detê-lo.
O que é desmatamento?
O desmatamento é a perda da cobertura vegetal, constituída por florestas ou matas, com o objetivo de dar um uso particular à terra (ou as vezes nenhum uso, somente para que a pessoa aumente a área do próprio terreno), que está vinculada a uma área específica de interesse das pessoas.
Geralmente, em sentido amplo, do ponto de vista ecológico e conservacionista, o termo desmatamento também inclui qualquer impacto que afete severamente a estrutura e a qualidade da floresta, da qual é muito difícil recuperar e que posteriormente torna impossível denotar a área como floresta.
No entanto, existem alguns especialistas que preferem usar o termo degradação florestal para casos como o acima, porém, quando esses eventos ocorrem, o ecossistema não se recupera, então é finalmente desmatado.
Dessa forma, o exposto está relacionado ao que é expresso pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), que define o desmatamento “como a conversão de florestas para outro tipo de uso da terra” .
Quais são as principais causas do desmatamento?
Diante da questão de quem causa o desmatamento, podemos estabelecer dois tipos de causas, algumas naturais e outras antrópicas (causadas pelos seres humanos).
Causas naturais do desmatamento
As primeiras referem-se a certos eventos naturais como a erupção de um vulcão, fortes tempestades, incêndios naturais e o desenvolvimento de pragas ou doenças nas árvores (as últimas desde que não sejam induzidas por seres humanos).
Importante dizer que eles ocorrem com uma frequência menor e geralmente atingem áreas menores.
Causas antrópicas do desmatamento
Em relação às causas antrópicas do desmatamento, que prevalecem há várias décadas, elas têm origem em diversas atividades humanas, que retiram a cobertura florestal para utilizar o solo para outro fim ou para processar o recurso madeireiro (tora de madeira, carvão vegetal e a lenha) em nível local. para diferentes propósitos.
Assim, podemos especificar as seguintes atividades ou áreas que causam desmatamento:
• Indústria pecuária.
• Agricultura (principalmente para o plantio de soja que serve para alimentar o gado).
• Indústria da madeira (para produção de papel, construção, carvão).
• Incêndios (feitos pelo homem).
• Desenvolvimento industrial e urbano, construção de estradas e rodovias.
Quais são as consequências do desmatamento para o meio ambiente?
Certamente você já se perguntou por que o desmatamento é um problema e, nesse sentido, devemos dizer que isso se deve a uma série de consequências que se originam no meio ambiente.
A seguir, vamos conhecer as consequências do desmatamento:
Perda de biodiversidade
Segundo dados dos últimos anos, 80% dos anfíbios, 75% das aves e 68% dos mamíferos, só para citar alguns grupos taxonômicos, vivem em várias florestas em escala global.
Dessa forma, uma das consequências do desmatamento é que ele não causa apenas a perda de uma variedade de plantas que compõem florestas e matas, mas também contribui para o desaparecimento de animais, fungos e microrganismos que estão associados a importantes redes ecológicas com a cobertura vegetal.
O próprio Pau-Brasil, árvore que deu o nome ao nosso país, é uma espécie ameaçada de extinção.
Alteração do ciclo hidrológico e de nutrientes
As plantas fazem parte do ciclo da água, o mesmo que ocorre com vários elementos e compostos químicos essenciais à vida como oxigênio, dióxido de carbono, nitrogênio, entre outros.
Assim, quando não há camada vegetal, os ecossistemas podem se tornar espaços áridos sem a presença de água, além disso, os nutrientes e elementos básicos para a vida são completamente alterados.
Veja maiores informações do papel das árvores, principalmente as da floresta amazônica, para não deixar algumas partes do planeta virarem desertos:
Contribuição para as mudanças climáticas
As florestas contribuem para a regulação das temperaturas em diversas regiões, portanto, quando são perdidas, a incidência solar não pode ser equilibrada por esses ecossistemas, assim os solos ficam totalmente expostos a essa dinâmica térmica, gerando localidades mais quentes que o normal.
Além disso, as coberturas florestais são espaços essenciais para a absorção do dióxido de carbono, um dos gases de efeito estufa, de modo que, como não há massa vegetal suficiente, esse gás é liberado na atmosfera, influenciando nas mudanças climáticas em nível global, por isso, o desmatamento causa um impacto direto no clima.
Erosão
O desmatamento também gera impactos no solo, pois, se esse substrato estiver desprovido de vegetação, fica exposto às ações do vento, da água e do sol, o que contribui para sua degradação, dificultando ou impossibilitando a ocorrência de nova crescimentos vegetação.
Quais são as principais consequências do desmatamento para a sociedade?
As consequências do desmatamento não ocorrem apenas no meio ambiente, mas, vivendo em um planeta globalizado, há repercussões também em nível social. Assim, talvez possamos generalizar as consequências em uma única frase, sem florestas não há vida. Mas vamos detalhar abaixo como o desmatamento afeta a sociedade:
Aumento de doenças
Florestas naturais e selvas são espaços onde certos patógenos que causam doenças virais ou bacterianas vivem em relativo isolamento. Portanto, ao alterar os ecossistemas supracitados, esses agentes podem se espalhar para espaços povoados, causando surtos de doenças que, em certos casos, tornam-se de importância sanitária para a sociedade.
Deixarei aqui um estudo do IPEA sobre o assunto, para se aprofundarem mais: IMPACTO DO DESMATAMENTO SOBRE A INCIDÊNCIA DE DOENÇAS NA AMAZÔNIA
Diminuição da disponibilidade hídrica
Como mencionamos, os espaços florestais estão ligados ao ciclo da água, mas, além disso, em muitos casos são guardiões de reservatórios de água essenciais ao abastecimento das comunidades humanas, e também da biodiversidade a eles associada. Nesse sentido, quando a camada vegetal é perdida, a água superficial fica exposta, podendo diminuir a quantidade nesses reservatórios, afetando sua disponibilidade para nós.
Prejudica comunidades originárias
Existem comunidades indígenas e camponesas associadas a espaços florestais, das quais dependem para sua subsistência. Dessa forma, ao desmatar ou alterar a dinâmica das florestas, esses grupos humanos são afetados.
Limitação para o uso de recursos
Diversas áreas florestais, manejadas de forma sustentável, são utilizadas para a obtenção de recursos importantes para as populações humanas, como madeira, papel, frutas, nozes, matérias-primas para o preparo de medicamentos e outros produtos. À medida que o desmatamento avança, afeta diretamente a possibilidade de obtenção de recursos como os mencionados.
Aumento dos desastres socionaturais
Em algumas regiões, as áreas florestais estão localizadas em áreas montanhosas, associadas a bacias hidrográficas. Dessa forma, a vegetação atua como protetora do solo e quando ocorrem chuvas, principalmente as excepcionais, a camada de vegetação amortece o impacto da água e evita deslizamentos de terra.
Diante das áreas montanhosas desmatadas e da ocorrência de chuvas fortes, o solo se mistura facilmente com a água, formando massas de lama que se desprendem e arrastam tudo em seu caminho, causando tragédias nas populações vizinhas.
Por que devemos evitar o desmatamento?
Evitar o desmatamento é uma das tarefas fundamentais atualmente, deve ser organizada e executada a partir de políticas estatais em nível global, e pelos diversos grupos humanos que vivem adjacentes às áreas florestais.
Os relatórios indicam que, desde 1990, cerca de 178 milhões de hectares de áreas florestais desapareceram, o que foi terrível para aspectos-chave como mudanças climáticas, biodiversidade, entre outros. No entanto, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação informou que a taxa de desmatamento vem diminuindo, porém, não o suficiente para evitar as consequências que mencionamos anteriormente. Além disso, o objetivo global proposto era acabar com esse problema ambiental até o ano de 2020, mas as estimativas agora indicam que são necessários mais cerca de 25 anos para enfrentar esse desafio.
Dessa forma, se o desmatamento não for interrompido, aspectos como extinção de espécies, mudanças climáticas, alteração dos ciclos naturais, desastres socionaturais e redução dos recursos necessários às populações continuarão aumentando.
Agora, diante da questão de como parar o desmatamento, é necessário um compromisso dos governos em nível global, pois a maior parte das reservas florestais são de domínio público, por isso é necessária a correta aplicação das políticas e leis estaduais e uso sustentável desses espaços.
São também necessários planos educacionais aplicados às comunidades locais e às populações em geral para promover ações adequadas quanto ao uso das áreas florestais, para que se entenda seu valor e importância para a vida no planeta.
Em quais regiões há mais desmatamento?
Segundo relatórios da Organização das Nações Unidas (ONU), a maior taxa de desmatamento anual entre 2010 e 2020 ocorreu na África, com uma perda de aproximadamente 3,9 milhões de hectares de floresta. Em seguida, vem a América do Sul, com 2,6 milhões de hectares.
Agora, nos dez principais países onde o desmatamento anual mais ocorre, temos Brasil, Bolívia, Paraguai, República Democrática do Congo, Indonésia, Angola, República Unida da Tanzânia, Mianmar, Camboja e Moçambique.
Como podemos ver, o desmatamento no Brasil é relatado como um aspecto importante, dada a quantidade de cobertura vegetal que é perdida anualmente. Isso está relacionado ao fato de ser um dos países com maior cobertura florestal do mundo, pois possui cerca de 497 milhões de hectares de florestas, o que representa 12% do total mundial.
Especificamente dentro da região brasileira, verificamos que o desmatamento da Amazônia é um dos mais importantes, algo que ocorreu historicamente. Atividades como agricultura, extração de madeira, mineração e desenvolvimento urbano estão entre as principais causas devastação desse valioso espaço, de importância ecológica não só para a América do Sul, mas para o mundo.
Os números sobre a Amazônia atualmente são alarmantes e têm batido recordes negativos a cada ano. Vou falar sobre o desmatamento das florestas do Brasil em outro artigo.
Conclusão
Como vimos, o desmatamento é um grave problema ambiental que afeta globalmente, que tem repercussões transcendentais para a vida em geral.
Embora alguns esforços tenham sido feitos para impedir seu progresso, eles não foram eficazes o suficiente para resolver definitivamente o problema. Isso requer um compromisso e a vontade unificada de vários atores em cada uma das regiões do mundo.
Referências
Naciones Unidas (2020). La deforestación disminuye, pero no al ritmo suficiente para proteger al planeta. Disponível em: https://news.un.org/es/story/2020/07/1477741
National Geographic (2021). Deforestación. Disponível em: https://www.nationalgeographic.es/medio-ambiente/deforestacion
Olson, S., Gangnon, R., Silveira, G. y Patz, J. (2010). Deforestation and Malaria in Mâncio Lima County, Brazil. Disponível em: https://wwwnc.cdc.gov/eid/article/16/7/09-1785_article
Organización de las Naciones Unidas para la Alimentación y Agricultura (2020). Una nueva perspectiva. Evaluación de los recursos forestales mundiales 2020. Disponível em: https://www.fao.org/forest-resources-assessment/2020/es#:~:text=La%20FAO%20define%20la%20deforestaci%C3%B3n,inducido%20por%20humanos%20o%20no).
WWF (2019). La degradación de los bosques: por qué afecta a las personas y la vida silvestre. Disponível em: https://www.worldwildlife.org/descubre-wwf/historias/la-degradacion-de-los-bosques-por-que-afecta-a-las-personas-y-la-vida-silvestre
Foto da capa: Bloomberg Línea